sábado, 26 de março de 2011

Assunto inócuo

Seu desejo é escrever. Escrever aquilo que pensa, porém não consegue. O máximo que faz é jogar uma palavrinha aqui, catar outra ali, buscando mentalizar o que será escrito.
Em vão esforço. É uma tarefa árdua. Os pensamentos evocam, no mais profundo do inconsciente, algo que valha a pena. A caneta rascunha,rascunha,surgem emaranhados disformes, desconexos, imperceptíveis mesmo; a olho nu, nada se vê. Como, se a caneta sequer consegue deslizar-se, no papel encontra resistência. A alma, no entanto, insiste em expor-se.
Dentro de si, agrilhoada, permanece inócua, etérea. Quer desvencilhar-se e clama por um salvador capaz de mergulhar nas profundezas do seu âmago e conhecer os seus devaneios. Seu sonho é deixar-se desvendar, mas o mundo físico contraria essa necessidade, que de si faz parte.
Triste, enclausurada, resistente retrocede, com suas vontades frustradas, retorna para o recôndito do seu lar, e inerte volta-se para si,
com a certeza de que outras vezes terá essa explosão de lucidez e deixar-se mostrar.
Agora, porém, só, esconde-se, acantonada, controlada, desejosa de ser encontrada.
Quando?
Nunca!
É muito tempo.
É preferível contar com o acaso que sofrer com a ausência do talvez. No talvez existe uma esperança, por remota que seja. Há o vislumbramento do amanhã diferente. Hoje, será o ontem, é passado, falta menos um dia para o futuro acontecer. Quem dá essa absoluta certeza é a dúvida, gerada pela esperança, que nutre o talvez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário